sábado, 31 de outubro de 2015

Fúria e Terror

Orcs! Orcs por toda parte!
Um deles veio girando uma clava na direção da minha cabeça - aposto que nem ele sabia se no pescoço, na mandíbula ou no cenho. Só sei que me agachei e perfurei seu estômago com a minha espada. Eu tremia inteiro. Meu golpe foi tão mal direcionado quanto o dele, com a diferença de que tive tempo de prepará-lo enquanto o bruto gritava e corria. O maior obstáculo era lutar na tênue luz da noite.
Eu não tremia por ter matado alguém. Já havia caçado goblins e sabia da existência de orcs, apesar de nunca tê-los visto até agora. Um palmo maior do que qualquer um da minha caravana, pele cinzenta, dentes acavalados, orelhas deformadas, focinho em vez de nariz, músculos e fedor. Quase vomitei quando seu abdômen vazou pelos meus pés, mas não tive tempo para me enjoar, porque já tinham mais dois vindo.
Respirei fundo e tentei me preparar melhor desta vez. Eles chegaram com seus machados prontos para me fatiar e eu me joguei para a esquerda, evitando ser cercado. Enquanto sentia o vento sendo cortado pelo golpe inimigo, abri um corte da cintura até a costela do meu agressor, fazendo-o desfalecer em agonia junto do seu camarada no chão. O terceiro nem esperou seu amigo morrer para me atacar. Foi fácil esquivar da machadada com o outro orc ainda de joelhos entre nós. Não querendo arriscar um combate direto, chutei o moribundo contra o meu adversário, fazendo-o tropeçar nos outros dois. Antes que ele se levantasse, acertei dois golpes nas suas costas, terminando de montar a pilha de cadáveres à minha frente.
Eu não tinha orgulho de nada daquilo, mas era eu ou eles.
Ouvi um grunhido atrás de mim, me virei assustado e vi um orc de joelhos com uma flecha no pescoço. Não parei para procurar o meu salvador, mas agradeci mentalmente. Olhei ao meu redor e vi um dos mercadores que eu escoltava sendo jogado no chão por três dos inimigos.
Avancei e estoquei contra o mais próximo de mim, penetrando a minha espada na sua axila. Um erro, pois perdi tempo demais retirando a minha arma do morto. Tropecei enquanto evitava um golpe horizontal de um machado, ergui meu escudo, que quase se partiu ao meio com o impacto que recebeu e tentei aparar um terceiro ataque com a minha espada, mas a arma dele foi mais eficiente e partiu a minha lâmina, quase arrancando a empunhadura - e a minha mão - junto. Mais por desespero do que por raciocínio - raciocínio nenhum, para ser sincero -, encravei o cotoco da espada no olho do orc, que gritou de dor e acertou o cabo do machado no meu tórax como reflexo final antes da morte.
Caí de costas e, antes de me levantar, já tinha uma bota acertando o meu ouvido. A parti daí, não sei dizer quanto tempo se passou, enquanto a minha visão estava embaçada pela tonteira, o meu ouvido zunia e meu cérebro latejava dolorosamente. Devo ter me contorcido de dor e cuspido lama enquanto tentava entender se meus sentidos estavam voltando, ou se eu já estava morto e entrando na pós-vida. Talvez, a segunda opção teria sido mais doce.
Pois meus sentidos voltaram e eu comecei a enxergar corpos pelo chão. Alguns de orcs. Muitos de humanos. Companheiros de viagem e clientes assassinados. Possíveis futuros amigos. Pude ver meia dúzia de sobreviventes rendidos, como eu.
Olhei para cima e vi uma maça-estrela apontada para o meu rosto. Empunhando a arma, um orc de mais de dois metros de altura. Ele era feio demais, mas acredito que estava rindo.
E entre as risadas, pronunciou com uma voz gutural:
- Escravo.

***

Eles não tinham correntes para nos algemar. Em vez disso, pegaram cordas e improvisaram amarras entre nossos punhos e tornozelos, forçando-nos numa fila. O saque foi rápido. Pegaram o que achavam que tinha valor e dispensaram o resto. Deixaram as carroças onde estavam, sem se preocupar em ocultar o ataque.
Sem nos dirigir palavras, nos puxaram pela corda e nos guiaram pelo bosque. Caminhamos pela mata selvagem por cerca de duas horas até chegarmos numa caverna. Pude ouvir o choro de uma mulher quando nos aproximamos da entrada. Os orcs ignoravam.
Até que o grandalhão da maça-estrela se aproximou de mim.
- Por que vocês sempre choram?
Estudei o patife por um momento. Era alto e musculoso, totalmente abrutalhado. Seus olhos eram vermelhos, seu rosto era gorduroso e murcho e faltava-lhe uma orelha. Talvez feio entre os feios.
- Ela está assustada.
O orc deu de ombros.
- Vocês não se assustam quando nos matam.
Ponderei se era arriscado demais contrariar meu raptor.
- Acho que ela nunca matou ninguém.
- Então é fraca.
- Então deixe-a ir. Ela não terá serventia se for fraca.
- Ela é gorda. Isso vai servir.
Engoli em seco pensando no que isso poderia significar.
- Sabe como um humano sai de um calabouço orc?
Ele parecia estar se divertindo.
- Pelos nossos excrementos - e riu consigo mesmo enquanto adrentrávamos a escuridão do túnel subterrâneo.

***

Eu imaginei um monte de coisas. Que seríamos o banquete da noite. Que seríamos torturados só por diversão. Que seríamos sacrificados num ritual profano. Mas recebemos ferramentas e nos enfurnaram numa mina de ferro. Pelo o que pude entender, nem passamos pela aldeia dos orcs, fomos direto para a escravidão.
Andamos pelos menos uma hora por corredores escuros. Nossos captores não usavam tochas e nem desaceleravam os passos, o que dificultou muito a caminhada. Perdi a conta de quantos tropeços e topadas eu dei pelo caminho. Na mina, mais quatro humanos. Não pareciam mal alimentados, mas fatigados e à beira da insanidade. Ainda assim, dóceis e obedientes. Ali, havia duas tochas. Pouco para nos dar o conforto que nossos olhos precisam, mas uma enorme concessão para podermos trabalhar com mais eficiência, pelo visto.
Sem muitas opções, comecei a trabalhar.
Não sei quanto tempo eu fiquei com a picareta na mão. Só sei que nenhum plano de fuga digno de esperanças me veio em mente. Éramos dez humanos, mas apenas três parecíamos em condições de lutar. Todos estávamos cansados e/ou com fome. Pelas minas, dois guardas vestindo armaduras de couro e portando um machado de batalha cada vigiavam o trabalho e mais um patrulhava os arredores. Só teríamos picaretas e tochas como arma, muitos morreriam no primeiro combate e ainda havia dúzias de corredores desconhecidos para a fuga, isso se nenhum humano se acovardasse, o que era outra ideia ridícula. Minha fuga teria que esperar.
Minha boca estava seca, mas o único humano que ousou pedir água recebeu um soco na cabeça em resposta. Outros dois tentaram conversar entre si e foram agredidos também. Pelo o que pude perceber, aqueles não falavam nosso idioma e respondiam qualquer palavra com surras. Além da boca seca, o calor era abafado e castigante e os braços doíam como eu não imaginava que seria possível. Cada olhar trocado entre os cativos transbordava desespero.
Depois de muitas horas, um de nós desmaiou. A mulher correu até ele para socorrê-lo. Porém, quando um dos guardas se aproximou, ela preferiu retornar ao seu trabalho. O orc pegou o desmaiado pelo cabelo e puxou até o centro daquele salão. Eu não acreditei quando ele sacou o machado.
E decapitou o homem.
A mulher não se conteve e gritou de horror com a cena. Cada um de nós interrompeu o trabalho por um instante enquanto o corpo convulsionava pela última vez e uma enorme poça de sangue se espalhava pela pedra suja. O fedor foi intragável e um de nós vomitou. Os quatro veteranos da mina pareceram menos espantados.
Os dois guardas aproveitaram para contemplar nossas reações, saboreando a cena. Então surgiu uma breve expressão de impaciência e voltamos à picareta e à pedra.
Eu tinha medo.
E a mulher continuou chorando.
Por sorte, alguns instantes depois o orc sem uma das orelhas retornou. Olhou o cadáver, sorriu e disse:
- Chega por hoje. Venham. Você e você, carreguem o corpo. Você, carregue a cabeça.
Tive pena dos escolhidos para o serviço fúnebre.
E a mulher continuou chorando.

***

- Por que mataram o homem que desmaiou? - Ousei perguntar.
- Fracos morrem - como se fosse a coisa mais natural do mundo.
E talvez fosse.

***

Não era uma aldeia. Era uma cidade inteira. Uma droga de uma cidade inteira!
Centenas de orcs caminhavam pelos túneis, que chegavam a quilômetros de largura e dezenas de metros de altura. Não faço ideia do quão longe eu estava do mundo de cima. Sabia apenas que estava entre criaturas ferozes e menos desorganizadas do que eu esperava. O comércio era feito em barracas improvisadas, havia túneis que aparentavam ser residências e até milicianos circulando pelos corredores. Aquilo era uma cidade. Talvez com mais de mil habitantes. A apenas três dias de viagem a pé da minha terra natal. Dois dias a cavalo - talvez apenas um. Felizmente, aqueles orcs não pareciam valorizar montarias.
Fomos levados até um buraco no chão no fundo de um corredor.
- Quem torcer a perna, perde o pescoço - foi o único aviso do sem-orelha.
E o primeiro foi empurrado para baixo.
Um a um, nós fomos conduzidos para o buraco e eu não sabia se estava temeroso ou curioso. Talvez já fosse hora de aceitar a morte.
Tomei cuidado quando chegou a minha vez de pular e não machuquei os pés na queda. E descobri o cárcere.
Os olhos já estavam mais acostumados com a completa escuridão do subterrâneo, por mais que fosse impossível se adaptar por completo. Calculei vinte humanos no total, talvez um pouco mais. O lugar fedia a detritos. As lamúrias indicavam luto. Luto por si mesmo.
- Bem-vindos - uma voz áspera se pronunciou. E eu teria estrangulado o maldito se soubesse onde ele estava.

***

No segundo dia de escravidão, ninguém desmaiou. Recebemos refeição na própria mina, antes de começarmos com as picaretas. Era uma carne seca e crua, de gosto acre. Provavelmente as partes menos valorizadas de um mamífero pequeno, apenas o suficiente para manter os trabalhadores com alguma disposição. E uma bacia de água coletiva para bebermos com as mãos, como os veteranos rapidamente demonstraram.
Tentei calcular as horas, mas foi impossível. Medi a primeira meia hora com o ritmo da picareta, até me desconcentrar num plano de fuga e não consegui me ater a nenhum dos dois. Eu começava a odiar os orcs a um nível pessoal. Começava a me odiar por não ter fugido quando o saque começou. E começava a odiar a gorda chorona.
O sem-orelha deu as caras algumas vezes naquele dia. A presença dele causava um transtorno geral nos escravos. Talvez porque ele aparentava alguma autoridade naquele povo. Talvez porque ele sabia falar nossa língua e poderia decidir nos torturar psicologicamente. Talvez só porque ele era um orc a mais nos vigiando.
Quando eu comecei a imaginar métodos de suicídio, o sem-orelha anunciou o fim do expediente.
No caminho, ele decidiu se divertir conversando comigo.
- Gostei de você.
- Então me deixe ir embora.
- Aqui, não presenteamos quem gostamos. Aqui, damos mais trabalho pra quem gostamos.
- É mesmo? Vai me dar uma picareta melhor?
- Tava pensando em botar humanos pra se matarem. Você poderia ser o campeão da arena! - E riu.
- Isso me enoja - eu já estava torcendo para ele perder a paciência comigo de uma vez e encerrasse a minha vida.
- Por quê? Não existem arenas nas cidades humanas? Se vocês podem fazer isso, por que orcs não podem?
- Prefiro morrer.
- É mesmo? Por que não enfiou a picareta na própria garganta ainda? Você não parece do tipo covarde. É do tipo mentiroso? Não vai dizer que tem esperança?
Abaixei a cabeça. Estava começando a entender que responder só divertia ele ainda mais.
- Você tem sorte. A estadia de vocês vai durar pouco aqui, se tudo der certo.
- Tudo o quê?
- As negociações. Anda, por aqui.
O grupo de escravos e guardas desviou do caminho para o buraco-sela. Em vez disso, chegamos a um cômodo que lembrava um açougue. Antes de poder ficar feliz com a morte, percebi que seríamos pesados numa balança rústica feita de cordas e pedras. Um por um sentamos na rede e fomos pesados por blocos irregulares. Aparentemente, valores aproximados bastavam. Um orc que tinha um pergaminho feito de pele de algum bicho e um pedaço de carvão registrou os valores. Senti-me um idiota de não imaginar que orcs não sabiam contar. Uma raça capaz de caçar, forjar e criar gado com certeza saberia alguma matemática, ao menos seus princípios. O suficiente para pesar humanos. Só faltava descobrir a troco de quê.

***

No caminho para o buraco, o sem-orelha voltou a falar:
- Gosto de humanos.
- Não sei se gostar e matar combinam.
- Você não gosta de bois, galinhas e porcos? E não come eles?
Fechei os olhos e me perguntei por que continuava respondendo.
- Humanos e orcs têm muito em comum.
- Eu duvido.
- Não seja ridículo. Lógico que temos. Você já matou orcs?
- Só aqueles que me atacaram ontem.
- E humanos?
Engoli em seco.
- E humanos? - Ele insistiu num tom soturno dessa vez.
Reuni um bocado de coragem.
- Sim, também já matei humanos.
- É isso que temos em comum. Orcs e humanos têm as mãos sujas de sangue de todas as raças, até mesmo da própria! A diferença é que vocês não reconhecem o quão podres são.
E me empurrou para o buraco.

***

Passei o dia seguinte inteiro imaginando porque havia sido pesado. Não seríamos gado ou rebanho, pelo visto. Talvez comida, mas não parecia haver necessidade de calcular o peso de comida. Talvez fossem nos identificar pelo peso, o que também não me convenceu.
Até que eu tive um palpite.
No final do dia, quando minhas mãos já estavam completamente esfoladas e meus joelhos já não conseguiam parar de tremer de tanto esforço, tive uma pressa especial em voltar para o buraco.
Assim que pulei para dentro, perguntei:
- Há algum nobre aqui dentro?
- Eu - a voz áspera que eu quis estrangular se pronunciou.
- Por que nos pesaram? - Fui direto ao assunto.
Ouvi um suspiro.
- Seremos trocados.
- Ouro?
- Lógico que não, ouro não tem valor aqui. Por aço.
- E todos sairemos daqui?
- Assim espero.
- Quando?
- Não sei. Acho que eles querem acumular peso o suficiente pra troca valer a pena.
- E desde quando orcs trocam reféns por pagamento?
- Desde que eu fiz a oferta, acredito. Um de nós foi liberto ontem pra levar a proposta até a minha cidade. Devem pedir o nosso peso em aço de boa qualidade.
Então havia esperança.
- Obrigado.

***

No quarto dia, mais um desmaiou.
Os orcs discutiram pelo direito de executá-lo. Quando se resolveram, o orc mais alto foi até o desfalecido e pisou na cabeça dele. E pisou de novo. E de novo.
Eu preferiria que ele tivesse usado o machado. Talvez não fosse divertido o suficiente repetir o mesmo método. Impressionar os outros escravos era mais importante do que executar o fraco. O orc pisou e chutou a cabeça e o pescoço da sua vítima enquanto o seu fôlego permitiu. Foram longos, dolorosos e bizarros minutos. Indigestos. Quando tudo o que sobrou foi uma massa deformada e sangrenta, o guarda sorriu para seus vigiados.
Entre o medo e o nojo, nós voltamos a trabalhar.

***

Não teve trabalho no quinto dia. Todos os humanos foram levados para o bosque. Os olhos arderam com a luz do sol. Pude sentir a tensão pelo corpo diminuir gradualmente, conforme nos afastávamos do subterrâneo e da cidade orc. Eu já planejava a minha vingança.
Paramos numa clareira e o sem-orelha mandou deitarmos no chão, ainda amarrados. Minhas esperanças diminuíram naquele momento.
Deve ter se passado uma hora ou duas de espera. Toda uma tropa orc nos escoltava. Éramos vinte e três humanos e trinta orcs. Vinte foram barganhar o resgate. Dez ficaram para nos guardar. Se não fossem as amarras, a falta de armas, a fome e o cansaço, seria fácil eliminar os vigias. Mas predadores não permitiriam que suas vítimas tivessem qualquer oportunidade. Quando um orc voltou, ele e o sem-orelha discutiram brevemente. Então, ouvi sua voz gutural:
- Os humanos trouxeram menos aço do que o combinado. Ficar com escravos não me interessa. E seria injusto devolver escravos que não foram pagos, não acham? Já que eles não cumpriram o trato, sou obrigado a dar um jeito pra que a troca seja justa. Antes de mais nada, quem tentar correr, morre!
Eu espremi meus olhos contra a grama desejando que aquilo tudo acabasse logo. Então, ouvi um grito. Alto e desesperado. Do homem de voz áspera. Ele gritou e gritou e gritou. E outo grito veio em seguida, no mesmo tom de agonia e dor. Os reféns começaram a chorar e implorar. Eu olhei ao meu redor tentando buscar uma saída. Que se dane os outros vinte e dois que estavam ali comigo, eu queria sair daquilo de uma vez. Egoísmo é feio na hora de dividir uma janta, mas não na hora de salvar a própria vida. Havia orcs por toda parte e eu estava preso aos outros. Seria impossível fugir sem ser encurralado antes.
Uma mulher se uniu aos berros desesperados. Depois, outro homem logo ao meu lado. Entre lamentos e grunhidos, pude identificar algumas palavras.
- Minhas pernas! Minhas pernas!
Quando tentei me espernear para tentar fugir inconsequentemente, uma mão me agarrou.
- Uma pena, eu gostava de você - o sem-orelha ironizou.
Então senti uma machadada no meu joelho. Eu berrei com toda a força que meu pulmão permitiu. E outra machadada e meus ossos já estavam comprometidos para sempre. Uma terceira machada e eu já não sentia mais o meu tornozelo, apenas dor. Meu rosto se desfez em lágrimas, baba e berros enquanto eu sentia meu joelho sangrando intensamente. O outro não foi poupado. Os urros de dor se renovaram. Eu pude sentir cada osso estalando e trincando com as machadadas. Depois da terceira, minha perna ainda não havia se descolado por completo. O orc não quis se dar o trabalho de usar o machado mais uma vez, agarrou meu calcanhar e deu um puxão que doeu mais do que qualquer lâmina, terminando de arrancar a minha perna.
E eu berrava.
E ele ria.
- Agora sim os humanos estão com o mesmo peso do aço.
E eu berrava.

***

Fomos abandonados naquele estado pelos orcs. Nossos malditos salvadores nos encontraram e ficaram chocados com a cena de vinte e três humanos amarrados no chão, sendo cinco deles aleijados. Três não suportaram até o resgate chegar e morreram de hemorragia.
Eu fui um dos infelizes que sobreviveram.
Fomos levados de volta à cidade em carroças.
Falaram em vingança. Falaram em justiça. Falaram até em perdão.
É nessas baboseiras que as pessoas pensam quando são derrotadas. Como se alguma coisa fosse importar.
Não serei eu que arrancarei a cabeça do sem-orelha, pois ele arrancou as minhas pernas.
Pois, nada mais importa depois que conhecemos os verdadeiros monstros.
Nada mais importa quando você é um inutilizado.
Apenas a certeza de que as histórias onde os mocinhos sempre vencem são apenas um bando de mentiras criadas para agradar os frouxos que não têm coragem de saber como é a verdade.
A verdade é que os monstros moram ao lado. E estão prontos para a vitória, se você não for forte.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O Continente

Breve Descrição Geográfica

O Continente é uma região extensa e acidentada, viajar em seu território é uma jornada longa e altamente perigosa. Ao noroeste, existe um complexo montanhoso conhecido como o Colosso, próximo ao Deserto do Rei Eterno, que por sua vez ladeia o Rio Hidra. Mais próximo ao centro do continente, o único pântano de tamanho relevante é conhecido como a Mancha Negra, uma extensão da Floresta Intocada. Ao sudoeste, o Rio Kraken separa a Colina dos Gigantes, uma região onde tudo tem proporções imensas, e as Três Montanhas, moradas dos anões. Mais próximo à região central, ao oeste, existe a Floresta Feérica, as Colinas Cinzentas e o Planalto dos Príncipes. No centro, reside a Colina Morta, uma região dada como amaldiçoada. Fora do continente, existem seis ilhas e um arquipélago: ao norte, três ilhas tropicais: a Coroa, cercada pela Asa Azure e pela Asa Rubra; ao sudoeste, a Ilha Esmeralda, ao sudeste, a Ilha Lunar; ao oeste, a Ilha Imperial e ao leste, o arquipélago conhecido como Ponte Arruinada. 

Divisão Geopolítica

O Continente se divide em diversas regiões. As principais são: a Liga Prateada, três reinos que cooperam entre si econômica e militarmente; a República Branca, um conjunto de cidades-estados regida por Conselhos e um Primeiro Cidadão; o União a Vapor, região pioneira na exploração de carvão e pólvora; a Região Feudal, onde não existe nenhum grande reino em seu território, apenas baronatos, condados e ducados; o Leste Radiante, região exótica regida por diversos clãs de samurais e shugenjas; o Vale Perdido, região dominada por orcs e goblinoides; o Deserto do Rei Eterno, domínio de um faraó venerado como um emissário divino desde que despertou; A Ilha Imperial se divide entre o Império de Aço, fruto da união forçada de reinos menores nas mãos de um tirano, e a Alcateia Tribal, um conglomerado de tribos e pequenos povoados que transitam entre a barbárie e o feudalismo e guerreiam entre si; Aruanda, uma coligação de reinos humanos de etnia negra; o Subsolo é o lar de inúmeros povos, havendo inclusive um reino humano que faz comércio tanto com os povos subterrâneos quanto com os da superfície; a Necrópole é uma região dominada por mortos-vivos, simplesmente não há motivos para se aventurar nestas terras; sabe-se que anões residem nas Colinas Cinzentas e nas Três Montanhas, mas a localização exata de seus reinos é desconhecida pelos humanos; lendas contam que elfos vivem na Floresta Feérica, mas nada além de mitos; e, por fim, Centrália, a região central, é a mais perigosa de todas graças ao Duque Abissal da Discórdia que atormenta todo o território - todos os reinos da região se encontram em estado de guerra e/ou decadência devido a sua influência direta ou indireta.