sábado, 1 de agosto de 2015

Gênese

Os mortais sabem muito pouco sobre o Multiverso que os cerca - na verdade, quase nada.

Mil anos atrás, o Mundo Mortal foi palco de uma colossal batalha entre duas forças cósmicas. Na verdade, aquela batalha já havia ocorrido anteriormente e voltaria a ocorrer. Era a Guerra Eterna entre o Paraíso e o Abismo.

O combate devastou reinos inteiros e alterou boa parte da configuração do continente. Após o conflito, uma nova surpresa: as forças inimigas também não sabiam da existência dos mortais. Foi quando parte da verdade foi revelada.

Alguns celestiais fizeram contato com os mortais e décadas de debates e estudos se procederam. Os mortais souberam que os celestiais e os abissais já se enfrentavam há milênios e que não parariam até o fim de um dos lados. Souberam que, nos primórdios, não existia um campo de batalha definido e as pelejas eram protagonizadas nos territórios atacados. Após algumas gerações, ambos os lados decidiram criar um campo neutro onde eles poderiam se enfrentar de forma imparcial, sem favorecer nenhum dos lados. Aquele embate que os mortais haviam presenciado era apenas mais um confronto.

Os celestiais, por sua vez, descobriram que nascera vida no campo de batalha que eles haviam criado. Uma vida diferente, limitada, frágil, mas, ainda assim vida. Os sucessivos confrontos entre o Paraíso e o Abismo geraram uma energia que fertilizou aquele mundo e fez a vida florescer sob a influência de ambos os lados - nasceram criaturas com o potencial tanto para a virtude quando para o vício. O choque foi mútuo e isso mudou o paradigma da guerra.

O Paraíso decidiu abraçar os mortais, adotando cada alma existente, oferecendo sua bênção, sua proteção e sua força. Seguiu-se, então, uma geração de união íntima entre o Paraíso e o Mundo Mortal. Naturalmente, o Abismo fez o mesmo e nem todas as criaturas viventes aderiram à causa celestial, se entregando aos abissais. Os mortais haviam entrado para guerra e começavam a fazer, aos poucos, diferença para o conflito.

Mas, algo que chama a atenção pode correr um grave risco. Há quinhentos anos, surgiu um mortal que se destacou entre todos. Um herói que lutou pela causa do Paraíso como nenhum outro e, surpreendentemente, começou a representar uma ameaça para os abissais. Alguém que fez o que nenhum mortal havia feito: matou abissais poderosos dos altos escalões do Abismo. Em resposta, um ataque direto ao Mundo Mortal foi arquitetado e os abissais declararam que destruiriam todos os seus habitantes. O mundo entrou em alvoroço temendo uma era de destruição e trevas.

Porém, antes do ataque, o herói propôs uma barganha com o Abismo: ele se entregaria como refém em troca de que o Mundo Mortal fosse poupado por mil anos.

A proposta foi aceita e os Sete Selos foram criados, selando o Mundo Mortal.

Com os mortais fora de jogo, o Abismo focou todo o seu ataque aos celestiais e promoveu uma invasão em massa contra o Paraíso. Infelizmente, há duzentos anos, aconteceu a Aniquilação. Todo o Mundo Mortal, cada alma vivente, sentiu um vazio avassalador no peito. Os que dormiam saltaram da cama. Os que pernoitavam entraram em desespero aos poucos. E num momento preciso, todos entraram em prantos. Lágrimas, soluços, membros trêmulos, desmaios, mortes. Suicídios em massa foram promovidos. Fieis juraram lealdade aos abissais. Muitos simplesmente desfaleceram. O mundo inteiro sentiu a morte dos celestiais. A bênção acabara. O Abismo vencera.

Após a Aniquilação, o Abismo voltou sua atenção ao Mundo Mortal.

Nos últimos duzentos anos, os mortais batalharam entre si para manter a integridade dos Sete Selos contra os cultistas - e começaram a falhar.

Um selo foi destruído e dois foram enfraquecidos, promovendo o retorno dos abissais.

Agora, o fim é iminente e poucos acreditam em qualquer causa benevolente.

Agora, é uma questão de tempo para os Selos serem destruídos e tudo terminar.